Após 4 a 20 anos os animais domésticos voltariam ao estado feral. Esse período representa duas a dez gerações de espécies como cachorros, porcos e bois. Ser fera está nas características genéticas desses animais, mas isso é reprimido pelo convívio com os humanos. Sem nós, eles sofreriam até mudanças físicas. Cães ficariam mais parecidos com lobos (e voltariam a viver em matilhas), bois com búfalos e porcos, com javalis.
Após 20 anos o trecho urbano do rio Tietê ficaria 100% limpo. Sem lixo químico – ou mesmo os dejetos orgânicos produzidos pelos humanos – sendo despejado no trecho que atravessa a cidade de São Paulo, o rio Tietê entraria em um processo de auto-limpeza. Em duas décadas, estaria tão limpo e piscoso quanto antes de os portugueses chegarem ao Brasil.
Após 70 anos a camada de ozônio estaria sem buraco nenhum. Para sua recuperação total, bastaria a parada na emissão de gases como CFC e amoníaco.
Após 300 anos a temperatura média global começaria a cair. O fim da emissão de CO2 por veículos, indústrias e queimadas brecaria na hora o aquecimento global. A temperatura se estabilizaria nos atuais 14,7ºC (prevê-se que ela subirá até 5ºC até o fim do século).
Em até 1000 anos todo o lixo produzido no mundo desaparecerá. O lixo orgânico – restos de alimentos e carcaças de animais, por exemplo – seria consumido por insetos, bactérias e fungos, em um tempo relativamente rápido, em cerca de 500 anos. Os outros 500 são culpa dos lixos inorgânicos – como metais, plásticos, vidros – cujo processo de reabsorção pela natureza é muito mais demorado.
Após 1000 anos as construções apodreceriam até sumir. Sem manutenção e entregue aos animais, o concreto de um prédio começaria a apresentar fissuras e rachaduras em 100 anos. Em 500 anos, com as estruturas metálicas se desmanchando em ferrugem, o prédio cairia. Em mais 500 anos tudo viraria pó.
Após 5 mil anos a mata atlântica engoliria São Paulo. Depois de esfacelamento das construções e do desaparecimento da cobertura asfáltica, ainda seria necessária a recuperação do solo para que árvores de grande porte pudessem ocupar o terreno – isso levaria de 3 mil a 5 mil anos.
Após milhões de anos o petróleo abundaria. O processo de decomposição que forma o petróleo nunca cessou, mas é muito lento. Sem a extração, as reservas de petróleo levariam de muitos milhões a poucos bilhões de anos para voltar ao nível do século XIX, antes da exploração maciça.
Matéria Revista Super Interessante (Edição 229 / agosto de 2006)